Sinto secura na garganta. Secura é uma palavra esquisita, não? Se-cura. Condição e imperativo. Cura. Uau, que promissor!
Secura diz de seca, garganta seca. Seca, além do oposto de molhada, é também, pessoa muito magra. Outro significado para seca é aquela que não pode chorar, ou ainda, a que não pode ter filhos.
Mas a secura a que me refiro é em um lugar muito específico, na garganta. Não posso falar? Mas é claro que não é isso, ora, eu falo. E como falo! Talvez seja alguma coisa também muito específica que não pode ser dita. Talvez, nem sabida seja essa coisa que me seca. Será que há uma palavra que me seca? Quero uma palavra molhada.
Antes que me digam que é sede, eu garanto a vocês que não é. Tomei litros de água. Nada é suficiente, meu corpo se recusa a render-se à água. Não hidrata.
Brigar com o meu corpo é sempre uma luta perdida. Ele vence facilmente.
As pessoas dizem da dicotomia, da batalha que há entre razão e emoção. Inútil, é o corpo que sempre vence. Podemos dizer da batalha entre cérebro e coração. Esta sim, é justa. Porém, inútil na mesma medida.
O corpo é mais do que a nossa casa, o corpo é soberano. Não conseguimos abandoná-lo. Está sempre conosco. Não se cansa de nós. Nós é que cansamos dele. Aí fazemos plástica, academia, botox, maquiagem, pintamos os cabelos, tudo para se apaixonar de novo pelo corpo fiel-de-todo-dia. Ou, ao menos para suportá-lo. Corpo é mais companheiro do que cachorro.
As vezes, quando acordo, não sei quem é. Me espanto de ver meu corpo no espelho. É só através dele que me reconheço. Se um belo dia, eu não fosse mais Sofia, acordasse em corpo de outra mulher, ou se acordasse em corpo de homem, será que ainda assim seria eu? Quem sou eu, um corpo ou um nome?
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